segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Brincadeira de gente grande

Se vc, amigo imaginário, ainda acha que video game é coisa de criança, precisa urgentemente sair debaixo dessa pedra na qual vive. Especialmente porque a briga entre os consoles da nova geração não é nada infantil.

Historicamente, a briga entre consoles se dava na exclusividade de jogos que cada um oferecia. Nes e Master System. Super Nes e Mega Drive. PlayStation e Saturn. A qualidade dos gráficos era praticamente a mesma entre os concorrentes. A jogabilidade também não era nada de especial. A diferença se dava nos games disponíveis para cada um.

Fato que é comprovado com a chegada do Nintendo 64. Com qualidade superior dos gráficos, era de se esperar que houvesse um domínio do novo video game de Mario e Luigi. Mas o que se viu foi que o PS conseguiu competir de igual para igual, oferecendo uma maior variedade de jogos, os primeiros blockbuster games, que já começavam a mudar a forma como os aparelhos eram vistos. A brincadeira já não era mais tão direcionada para crianças.

Enquanto isso, eram desenvolvidos consoles superiores, de 128 bits. O primeiro deles a aparecer foi o Dreamcast, da Sega. Embora bastante superior a tudo que houvesse no mercado, o problema do Dreamcast é que este foi encarado como uma prévia do que seria o PlayStation 2. A espectativa era enorme. E então o que se viu foi o maior sucesso de vendas na história dos video games.

O PS2 se tornou um sucesso sem precedentes no mercado, mantendo a liderança frente a novos concorrentes, como o Gamecube, da Nintendo, e o Xbox, da entrante Windows. Basicamente, a exclusividade de sucessivos blockbuster games possibilitou com o console se mantesse à frente.

No entanto, a nova concorrente dava sinais de que não entrou no mercado por acaso, e estabeleceu fortemente seu posicionamento na jogabilidade online, lançando o espaço Xbox Live. Sendo assim, a Sony rapidamente fortaleceu sua jogabilidade online.

E é nesse cenário que os consoles de última geração são lançados. O primeiro deles foi o Xbox 360.

Xbox 360 - "Jump in"


Aproveitando de seu pioneirismo, o Xbox 360 desfruta de um amplo sucesso, que conseguiu manter o bom número de vendas mesmo com a chegada dos concorrentes Wii e PlayStation 3.

O console aposta em seus ótimos gráficos e na convergência como centro de mídia, ao armazenar, comprar e reproduzir músicas e filmes, além de funcionar bem com mp3 players. Mas o seu maior diferencial é claramente a jogabilidade online, com o Xbox Live.

A Microsoft tira proveito de sua expertise no mercado informático para maximizar a experiência dos usuários do Xbox Live. O posicionamento do console está claramente ligado a isso, tornando o acesso ao espaço e o contato com outros usuários uma experiência diferenciada, o que se torna a verdadeira vantagem de se possuir um Xbox 360.

Assim, não apenas os usuários desfrutam dos jogos online, mas também criam uma rede de contatos com gostos semelhantes. Esses fatores somados criam a experiência do Xbox Live.

Paralelamente, o Xbox Live também apresenta uma série de oportunidades à Microsoft. Primeiramente, ao ter contato com as preferências de cada usuário, a empresa passa a ter no Xbox Live uma importantíssima ferramenta de CRM. Conseqüentemente, a empresa também garante uma maior fidelidade dos consumidores, sendo mais prático entrar em contato com estes, disponibilizando jogos online e upgrades para os games, o que torna mais positivo o relacionamento entre consumidor e empresa. Há também a possibilidade de maior controle por parte da Microsoft, especialmente sobre a pirataria, uma vez que pode detectar os usuários que tem tal prática e bani-los do espaço.

Outra estratégia que deve ser ressaltada da Microsoft é o investimento pesado para a quebra da exclusividade que PlayStation 2 e 3 têm sobre uma variedade de games, afetando o domínio da Sony.

De fato, a rivalidade entre Microsoft e Sony tem sido cada vez mais acirrada, em grande parte pelo forte marketing de guerrilha do Xbox 360, focado na rivalidade com a Sony. Pode-se citar duas ações interessantes da Microsoft:

A primeira delas foi realizada no lançamento oficial do PS3 no Reino Unido. Aproveitando-se da confusão e das longas filas formadas nas portas de lojas do setor, foram distribuídas cadeiras para que as pessoas pudessem sentar, como se pode ver na figura.


Ao acessar o link indicado, depara-se com a mensagem "Xbox 360 welcomes PS3 to the next generation. Sony... You’re late! Let the games begin."

Outro ponto positivo para a Microsoft nessa briga é uma emboscada sofrida pela Sony no website de games Gamepro. Ao acessar o conteúdo do PS3, o usuário se depara com pesada comunicação do rival.



Em conclusão, nota-se que o posicionamento ousado da Microsoft, como desafiante, tem levado vantagem sobre a postura ingênua da Sony no lançamento do PS3, o que reflete também na comunicação das duas empresas.

Wii - "Wii would like to play"


O posicionamento do novo console da Nintendo é o mais claro e mais inovador dos video games da geração atual. Enquanto Xbox 360 e PS3 são focados nos heavy users, o Wii busca atender um público não muito familiarizado com video games e não muito atraído pela proposta tradicional do produto. Em outras palavras, a Nintendo promete atender, além dos light users, o público que nunca jogou video game na vida

Seu grande diferencial é o joystick sensível a movimento, que transforma a jogabilidade em uma diversão à parte. Tanto que usuários do Wii afirmam que se trata de uma experiência que só se entende jogando. Tal experiência também pode se tornar especialmente divertida no modo multiplayer, como a comunicação do produto defende.


O preço do console também é um atrativo, totalmente de acordo com o posicionamento do produto, sendo o mais barato dos três. É evidente, no entanto, que a qualidade dos gráficos do Wii está diretamente relacionada com o preço, deixando a desejar em comparação com os outros consoles. O aparelho também é um centro de mídia bem mais limitado que os dois adversários.

A Nintendo argumenta que tudo isso está de acordo com seu posicionamento, e argumenta corretamente. A empresa busca se manter focada no seu público, na crescente legião de fãs do Wii. E para oferecer um produto com um grande diferencial em relação ao que há no mercado por um preço de alto-valor, a empresa abre mão de gráficos da maior qualidade.

A estratégia se mostra acertada, mas não sem falhas. A Nintendo subestimou a própria demanda pelo seu novo console, que se mostra altíssima, e sua distribuição é hoje seu ponto fraco. Pode-se dizer que houve falha de planejamento, mas a verdade é que a empresa procurou ser cautelosa, visto que os primeiros sinais eram de que o Wii seria o lanterna da disputa entre os três novos consoles.

De qualquer maneira, é de se destacar a estratégia acertada Nintendo, que buscando um segmento até então ignorado pelo mercado, conseguiu tornar seu produto um sucesso de vendas, rendendo à Sony sucessivas derrotas em vendas.

PlayStation 3 - "Play beyond"


Gráficos excelentes, ótimo centro de mídia, suporta vídeos de alta-definição e filmes em Blu-Ray, compra de conteúdo online. O PlayStation 3 tem tudo. Era de se esperar que não houvesse competição. Mas a verdade é que essa super máquina vem se enforcando na sua própria força.

O console é tão potente que ainda não há game capaz de exigir todo seu potencial. Sendo o mais recente dos três, o número de jogos disponíveis ainda é inferior ao dos outros. Some isso ao elevado preço da máquina, e vc tem a resposta para o fraco número de vendas em 2007.

Focado nos heavy users, que desejam blockbusters de gráficos cada vez melhores, o PS3 tem falhado sistematicamente em atendê-los. Tal público possui, no momento, uma oferta mais interessante no Xbox 360. O Wii, por outro lado, atende um público que até então era ignorado pelas empresas, que não podem mais se dar a tal luxo.

Sendo assim, a Sony tem sido prejudicada pela grave falha de planejamento. O posicionamento do PS3 é de um produto de qualidade ímpar no mercado, de tecnologia altamente avançada, disponível a um preço premium, que busca atender o fiel consumidor da empresa, que migrou na maior parte dos casos do PS para o PS2, e agora para o PS3. A própria comunicação do aparelho segue o conceito do desempenho superior. Entretanto, por enquanto o video game não passa de uma grande promessa.


A situação era tão crítica para a Sony que, no Japão, para cada PS3 vendido, eram vendidos seis consoles da Nintendo. Aproveitando-se da situação, a Microsoft não perdeu tempo, ao criar uma consistente campanha de comunicação que busca fortalecer a imagem do Xbox 360 em detrimento do PS3 - composta de anúncios em mídia especializada, principalmente na web, e de ações de marketing de guerrilha bem elaboradas, deixando a concorrente atordoada, sem reação.

A única solução possível foi uma significativa redução nos preços, além do lançamento do modelo mais simples, de menor memória, que também não lê os jogos dos PlayStations anteriores. A empresa sai no prejuízo a cada aparelho vendido, na esperança de construir um amplo mercado e recuperar seu investimento na venda de games e softwares no futuro.

A situação do PS3, no entanto, deve se estabilizar a partir do momento em que forem lançados grandes jogos, que já são esperados. Se a supremacia da Sony será restabelecida, é viver para ver. A verdade continua sendo de que o PS3 voa baixo.

Comentários:
se pararmos pra pensar que é isso que a Sony faz, lançar aparelhos de alta tecnologia que estão muito a frente da concorrência, ela nunca alcançou melhor seu objetivo. ;p

adorei o texto. =*
 
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